Aves desorientadas que assustaram cidades litorâneas da Califórnia nos anos 60, e inspiraram o clássico Os Pássaros, estavam contaminadas por uma neurotoxina produzida por um tipo de fitoplâncton
Verão de 1963 na Califórnia, Estados Unidos. A paz de uma pequena
cidade litorânea chamada Bodega Bay é arrasada por um ataque selvagem: milhares
de pássaros enlouquecidos arrasam casas, cortam a energia elétrica e os fios de
telefone e causam várias mortes sangrentas. Não há explicação para o comportamento
das aves.
Essa é uma história que não aconteceu de verdade, mas ainda assim
assustou milhões de pessoas, os espectadores do clássico Os Pássaros, do
cineasta Alfred Hitchcock. O mestre do suspense, porém, se inspirou em fatos
reais para conceber a obra. Dois anos antes, em 1961, ele havia lido nos
jornais californianos a história de outra cidade litorânea, North Monterey Bay,
que foi atacada por pássaros marinhos. Ao invés de machucar pessoas com bicos e
garras, no entanto, as aves apenas regurgitavam anchovas e batiam em muros e
paredes, desorientadas. Os acontecimentos pareciam saídos do livro The Birds,
da escritora inglesa Daphne du Maurier, publicado em 1952. Como no cinema, não
houve explicação para o que ocorreu.
Trinta anos depois, em 1991, a natureza resolveu realizar um
"remake" do fenômeno. Na mesma área, pelicanos apareceram na costa
voando desorientados e morrendo aos milhares. E os cientistas conseguiram
contar o final do filme: os bichos estavam infectados por ácido domoico, uma
neurotoxina produzida por um tipo de fitoplâncton (veja box ao lado) que prosperou nos mares locais
na época por motivos ainda desconhecidos. Essas substâncias foram encontradas
em grandes quantidades no estômago de peixes da região, que são o alimento dos
pássaros marinhos.
Os cientistas suspeitavam que o mesmo motivo causou o surto dos
pássaros de 1961, mas não havia evidências concretas. Cientistas das
universidades da Califórnia e da Louisiana, nos EUA, porém, encontraram a
diatomácea Pseudo-nitzschia (produtora da toxina; veja box ao lado) em amostras
de fitoplâncton da época. Segundo o estudo publicado na última edição da
revista Nature Geoscience, as concentrações encontradas não deixam dúvidas
quanto à presença massiva da neurotoxina no organismo de peixes que se
alimentavam do fitoplâncton.
Cinquenta anos depois, essa neurotoxina tem reconhecido o seu
"crédito" no episódio, pondo fim ao suspense. A pesquisa foi feita
por Sibel Bargu, Mary W. Silver, Mark D. Ohman, Claudia R. Benitez-Nelson e
David L. Garrison.
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